O cinema é uma forma muito interessante que encontramos para desenvolver idéias intrigantes e demonstrar a realidade social. Diferente de ensaios, livros e artigos, o cinema atinge com mais facilidade todas as camadas da sociedade. Filmes como os de Stanley Kubrick marcaram época por seus assuntos inovadores e por suas criticas, como seu antecessor Fritz Lang marcou por inovar a técnica e por vislumbrar idéias ecoam até os dias atuais. Ambos produziram filmes que nos permitem questionar a realidade humana e que caminhos estamos seguindo.
Em “2001: Uma Odisséia no Espaço” Kubrick exemplificou a sociedade que Rubem Alves, em seu texto “Tecnologia e Humanização”, idealiza. No entanto, Kubrick demonstra como o “‘homo ludens’, o homem que brinca” (Alves,11) não é possível. Para a convivermos em sociedade, mesmo que maquinas possam fazer uma diversidade de trabalhos, a labuta humana é necessária para manutenção da sociedade. Médicos, governantes e técnicos são alguns que não podem ser substituídos por máquinas. Seria necessário que a econômica do mundo fosse estável para que mesmo aqueles que não trabalham – foram substituídos por maquinas – pudessem ter seu salário garantido todo mês. Devido a natureza humana e a velha atual questão que “somos o que temos”, o lucro não deixará de existir mantendo a caótica economia atual e as diferenças sociais e culturais. Como a tecnologia seria essencial para a existência, uma nova forma de ditadura nasceria: ditadura tecnológica. Quem possui a tecnologia terá controle sobre quem não tem, obrigando que esses voltem a fazer trabalhos deshumanizantes para que se mantenha o controle de classes impedindo que reflitam.
Uma relação que tanto Kubrick quanto Alves não tratam em suas obras é a questão do meio ambiente, já que em sua época essa não era uma questão importante. No entanto, atualmente, sentimos na pele as conseqüências das mudanças climáticas. Uma sociedade onde a máquina domina não tem espaço para o meio ambiente. Assim se continuarmos a perseguir a idéia que só se atinge o desenvolvimento pelo desmatamento sem entender que nos desenvolveríamos de verdade o dia que todo o ecosistema for compreendido e fomos capaz de o usar de forma sustentável para nosso benefício. Em “Metropólis”, Fritz Lang, mostra o mundo dos ricos como um ambiente onde existe vegetação e o homem vive em equilíbrio com a natureza e a tecnologia. Já no mundo dos operários não se vê a vida natural. Nem o homem é mais um animal a partir do momento que se torna uma máquina de produção.
A partir do momento que o homem se torna parte da maquina cria-se uma dependência tecnologia que pode levar a uma situação onde de controlador o homem se torna o controlado. Essa situação ocorre tanto em “2001: Uma Odisséia no Espaço” como em “Matrix” de Andy e Larry Wachowski. O computador HAL e os robôs de “Matrix” chegam a controlar a vida de um homem enquanto se está um tipo de coma induzido. Os Wachowski chegam a mostrar o homem como fonte de energia para a máquina superando Kubrick e Lang que mostram o ser humano apenas como um auxiliar. O homem, se adapta e se conforma com esse controle inconscientemente, e ao perceber o ocorrido luta para se libertar dessa condição. Em “Metropolis”, Maria, a professora, vai ao ‘mundo’ dos ricos para mostrar a realidade que desperta o interesse do homo ludens, que se destrói ao compreender que seu prazer e liberdade de sempre brincar vem sob o custo de vidas mecanizadas de seres humanos. Kubrick só mostra essa epifania de seu personagem quando a maquina mostra um defeito – que também demonstra como nada feito pelo ser humano é perfeito, nem o próprio humano – e assim começa a eliminar os obstáculos, os homens dentro da espaço nave, para atingir seu objetivo: a verdade absoluta.
O homem chega a conclusão que precisa se libertar no momento que volta a se questionar sobre a verdade absoluta. Essa questão move o ser humano desde os filósofos pré-socráticos. A verdade absoluta em “Matrix” é o o que está fora da Matrix, esse é um caso excepcional onde o homem consegue atingir a verdade absoluta, mesmo que parcial, já essa só é a verdade para aquela realidade específica. Nessa questão Kubrick é quem demonstra de forma mais poética. O fim de “2001” demostra claramente como a verdade absoluta seria demais para o ser humano, é algo que destruiria sua mente e conseqüentemente seu corpo. Apesar de mover o ser humano, pode-se observar pela história que toda vez que algo supera as expectativas humanas e nos aproxima mais de tal verdade, um caos cai sobre a humanidade. Toda descoberta feita por um ser humano excepcional, como Darwin, Galileo, Copernicus, entre outros, foi duramente julgada e condenada, para mais tarde ser compreendida.
Quando Alves argumenta que ao atingir a sociedade tecnológica a história morreria, ele mostra como o ser humano se tornaria uma máquina sem capacidade para refletir, o que contradiz a promessa de tal sociedade, a possibilidade do nascimento do homo ludens. É olhando para o passado, para nossa história que aprendemos a dar o próximo passo, por isso após se tornar um velho, o astronauta de Kubrick, virá um bebê, é em sua natureza mais inocente e no passado que ele encontra a verdade mais pura e absoluta.
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