quarta-feira, 28 de abril de 2010

Retratando São Paulo

Jornadas fotográficas organizadas mensalmente por São Paulo ajudam os moradores da cidade a descobrirem seus encantos

São Paulo é uma cidade cheia de formas e cores características. Seu tamanho colossal esconde detalhes que são visíveis apenas para os olhos de poucos. Em 1996, o bairro da Lapa ainda era pouco movimentado, poucos conheciam a região. Com a mudança do curso de fotografia do SENAC para a região, André Douek, professor de fotografia e fotojornalista, decidiu organizar uma caminhada fotográfica pela região para apresenta-la aos seus alunos. A primeira caminhada foi no Mercado da Lapa. Até o ano 2000 André organizou uma caminhada por mês migrando para o resto da cidade.
Em 2006, Douek começou a trabalhar na Secretária Municipal da Cultura. Mesmo com as mudanças o projeto não foi abandonado. Na Secretária, o nome mudou para Jornadas Fotográficas, e como primeiro alvo das câmeras, foi escolhido o Museu da Cidade de São Paulo, que poucos conhecem e é um um belo patrimônio histórico no centro da cidade.

Foto tirada durante a jornada “São Paulo 24hrs” na Av. Paulista
Foto de Alexandre Alves Andrade


Luzes de Natal na Av. Paulista fotografada durante jornada das luzes de natal
Foto de Marcus Laranjeira


As jornadas ocorrem mensalmente pela cidade de São Paulo, cada mês um local é escolhido para ser documentado. Os tópicos de mas sucesso se tornaram permanentes, como “São Paulo 24hrs” em homenagem ao aniversário da cidade em Janeiro, variando apenas a região a ser fotografada. Em fevereiro o tema é uma das maiores paixões brasileiras: o carnaval, blocos de rua e diversas festas do carnaval são fotografadas. No final do ano as luzes de natal enfeitam as imagens dos fotógrafos amadores e profissionais que participam da jornada, novamente variando apenas a região da cidade que será fotografada. Algumas festas que caracterizam a miscigenagem paulistana como a Festa das Estrelas na Liberdade, também são muito populares. Fora os bairros atípicos da cidade como o Bixiga, Bom Retiro e locais famosos da cidade como o mercado municipal e a rua 25 de maio.

Festa das Estrelas fotografada na jornada ao bairro da Liberdade
Foto de Marcus Laranjeira


As 9:00 os inscritos se encontram no local marcado para o inicio da Jornada. No primeiro momento as pessoas usam o tempo para fotografar o que lhe interessar na região apresentada. Na segunda parte os participantes escolhem suas fotos e editam com a ajuda do professor. A jornada é uma atividade gratuita, o participante tem que arcar apenas com o valor da revelação, que ocorre durante o almoço que também é por conta do participante. Depois de editada os alunos enviam suas fotos para André que as divulga em seu blog. A jornada termina por volta das 17:00, no entanto, não é necessário participar de toda a jornada, muitos participantes se juntam apenas para fotografar. André acredita que muitos participam para poder fotografar com mais segurança. Uma média de 40 pessoas participam das jornadas, mas apenas por volta da metade permanece até o fim. O número de participantes normalmente é maior quando o foco é a região central da cidade. Por volta de 1.400 pessoas estão cadastradas no e-mail de ‘mala direta’ sobre a jornada. Na internet, André também divulga em seu blog a saída todo dia primeiro do mês. Fora da internet a jornada é divulgada na “Em Cartas”, uma publicação com os eventos da Secretária Municipal de Cultura e na TV Minuto, dentro da seção conhecida como “Minha Tribo” que é exibida nos metros. A maioria dos participantes toma conhecimento do evento pela TV Minuto.

Autorretrato de Leandro Gonçalves
Foto de Leandro Gonçalves


Leandro Gonçalves, 24, administrador e estudante de biologia na Universidade de São Paulo, participou da jornada ao bairro do Bixiga e disse que seu objetivo ao participar da jornada é aprender. “Sempre o interesse é aprendizado. Seja na técnica, seja na sensibilidade, seja em relações pessoais. É muito interessante, também, interagir com a cidade dessa forma: fotografando. A gente sempre encontra beleza onde muitos só vêem feiura. Sempre tem algo interessante pra ver, pra conhecer. Sempre tem alguém interessante pra conversar e fotografar.” Ele também acredita que a jornada é uma das melhores coisas da cidade “A gente aprende, conhece gente nova, lugares novos e ainda por cima recebe dicas e análises de um fotógrafo profissional. Não tem coisa melhor, seja pra quem tá começando, pra quem tá no meio do caminho ou pra quem já tem estrada”.

Mendigo no Bixiga fotografado durante a jornada ao bairro
Foto de Leandro Gonçalves


Por ser professor, André vê esse encontro também com uma forma de aprendizado “é interessante ver como resultado é muito diferente, dependendo da pessoa, isso é muito enriquecedor, porque a pessoa olha e se pergunta ‘mais que interessante eu passei por lá e não vi isso’. Então eu acho que a parte mais gratificante é quando a gente vai ver o resultado, quando cada pessoa vai ver o que a outra pessoa fotografo”. Com seu diversos objetivos a jornada fornece um ambiente para prática, troca de experiências e traz a possibilidade de conhecermos um pouco melhor a cidade em que vivemos. Leandro diz ser um evento mandatório “pra quem gosta de fotografia. Não importa o estágio em que esteja”.
Eventos como as jornadas ocorrem por toda a cidade, muitos também gratuitos. No entanto a divulgação desses eventos é muito restrita. A mídia de massas dificilmente divulga esse tipo de programa. Com a internet, a veiculação desses acontecimentos se tornou mais fácil. De acordo com o interesse, basta fazer uma busca em alguma ferramenta de busca na internet e encontramos diversas opções de eventos relacionado ao assunto de interesse.


Autorretrato de André Douek
Foto de André Douek



Existem outras Jornadas Fotográficas além das organizadas por André Douek. O Grupo Umcertoolhar e o Foto Cine Clube Bandeirantes também organizam eventos do tipo. Qualquer um pode participar das Jornadas, basta ter interesse e querer fotografar. Para se obter informações sobre as Jornadas basta acessar os sites dos Grupos.


André Douek:
http://andredouek.blogspot.com/

Umcertoolhar
http://grupoumcertoolhar.blogspot.com/

Foto Cine Clube Bandeirantes
http://www.fotoclub.art.br/

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Modificando a mente artística

No pós-modernismo jovens encontram cada vez mais formas diferenciadas de se expressar

A sociedade entra em um período de pós-modernidade onde a arte não se limita as telas. A arte já pode ser encontrada em paredes na rua, o grafite, e no corpo das pessoas, tanto como body paint, maquiagens e tatuagens. Neste período de transição as tatuagens junto com piercings e outro formas de expressividade que alteram a forma natural do corpo são mal vistas pela maior parcela da sociedade.
Como a própria arte os jovens da cidade, local ideal para difusão de idéias e manifestações, encontraram formas diferenciadas de se expressar. Assim se formaram as tribos urbanas: os punks, góticos, clubbers entre outros. Cada tribo, como cada escola artística tem subdivisões. Grande parte dos que participam de body modification pertencem a tribo dos góticos, apesar de isso não ser uma regra. Alem disso, o número de pessoas que aderem ao body modification tem crescido tanto que já se tornou quase uma tribo por si só.



O body modification consiste de fazer modificações radicais em seu corpo que vão alem de só piercings e tatuagens, as mudanças corporais são mais dramáticas como partir a língua ao meio para se assemelhar a animais e colocar aplicações de silicone e teflon para formar chifres ou apenas formar desenhos em relevo na pele. Muitos que seguem essa forma de manifestação se inspiram em animais para suas modificações chegando muitas vezes a modificar até a genitália para atingir tal objetivo.
Um caso famoso de body modification é de Felipe Kelin, filho de político e morava no Sul do país. Felipe chegou a ser símbolo por suas modificações e tatuagens. Ele tinha também piercings pelo corpo e alargadores em sua orelha e chifres em sua cabeça. No caso de Felipe, ele encontrou no body modification o alivio para seus problemas familiares e para sua depressão. No entanto tudo isso não foi suficiente, Felipe cometeu suicídio em 17 de Abril de 2004.


Felipe Klein

O caso de Felipe trouxe mais preconceito as manifestações corporais, pois essas passaram a ser associadas a depressão. Porem, já em 2010, vemos que conforme a sociedade entra cada vez mais fundo no pós-modernismo, o preconceito se dilui no meio de tantas mudanças. A geração 2.0 já nasce com uma mente mais disposta a aceitar e entender as diferenças humanas.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Em Busca da Verdade

O cinema é uma forma muito interessante que encontramos para desenvolver idéias intrigantes e demonstrar a realidade social. Diferente de ensaios, livros e artigos, o cinema atinge com mais facilidade todas as camadas da sociedade. Filmes como os de Stanley Kubrick marcaram época por seus assuntos inovadores e por suas criticas, como seu antecessor Fritz Lang marcou por inovar a técnica e por vislumbrar idéias ecoam até os dias atuais. Ambos produziram filmes que nos permitem questionar a realidade humana e que caminhos estamos seguindo.
       Em “2001: Uma Odisséia no Espaço” Kubrick exemplificou a sociedade que Rubem Alves, em seu texto “Tecnologia e Humanização”, idealiza. No entanto, Kubrick demonstra como o “‘homo ludens’, o homem que brinca” (Alves,11) não é possível. Para a convivermos em sociedade, mesmo que maquinas possam fazer uma diversidade de trabalhos, a labuta humana é necessária para manutenção da sociedade. Médicos, governantes e técnicos são alguns que não podem ser substituídos por máquinas. Seria necessário que a econômica do mundo fosse estável para que mesmo aqueles que não trabalham – foram substituídos por maquinas – pudessem ter seu salário garantido todo mês. Devido a natureza humana e a velha atual questão que “somos o que temos”, o lucro não deixará de existir mantendo a caótica economia atual e as diferenças sociais e culturais. Como a tecnologia seria essencial para a existência, uma nova forma de ditadura nasceria: ditadura tecnológica. Quem possui a tecnologia terá controle sobre quem não tem, obrigando que esses voltem a fazer trabalhos deshumanizantes para que se mantenha o controle de classes impedindo que reflitam.
       Uma relação que tanto Kubrick quanto Alves não tratam em suas obras é a questão do meio ambiente, já que em sua época essa não era uma questão importante. No entanto, atualmente, sentimos na pele as conseqüências das mudanças climáticas. Uma sociedade onde a máquina domina não tem espaço para o meio ambiente. Assim se continuarmos a perseguir a idéia que só se atinge o desenvolvimento pelo desmatamento sem entender que nos desenvolveríamos de verdade o dia que todo o ecosistema for compreendido e fomos capaz de o usar de forma sustentável para nosso benefício. Em “Metropólis”, Fritz Lang, mostra o mundo dos ricos como um ambiente onde existe vegetação e o homem vive em equilíbrio com a natureza e a tecnologia. Já no mundo dos operários não se vê a vida natural. Nem o homem é mais um animal a partir do momento que se torna uma máquina de produção.

A partir do momento que o homem se torna parte da maquina cria-se uma dependência tecnologia que pode levar a uma situação onde de controlador o homem se torna o controlado. Essa situação ocorre tanto em “2001: Uma Odisséia no Espaço” como em “Matrix” de Andy e Larry Wachowski. O computador HAL e os robôs de “Matrix” chegam a controlar a vida de um homem enquanto se está um tipo de coma induzido. Os Wachowski chegam a mostrar o homem como fonte de energia para a máquina superando Kubrick e Lang que mostram o ser humano apenas como um auxiliar. O homem, se adapta e se conforma com esse controle inconscientemente, e ao perceber o ocorrido luta para se libertar dessa condição. Em “Metropolis”, Maria, a professora, vai ao ‘mundo’ dos ricos para mostrar a realidade que desperta o interesse do homo ludens, que se destrói ao compreender que seu prazer e liberdade de sempre brincar vem sob o custo de vidas mecanizadas de seres humanos. Kubrick só mostra essa epifania de seu personagem quando a maquina mostra um defeito – que também demonstra como nada feito pelo ser humano é perfeito, nem o próprio humano – e assim começa a eliminar os obstáculos, os homens dentro da espaço nave, para atingir seu objetivo: a verdade absoluta.

O homem chega a conclusão que precisa se libertar no momento que volta a se questionar sobre a verdade absoluta. Essa questão move o ser humano desde os filósofos pré-socráticos. A verdade absoluta em “Matrix” é o o que está fora da Matrix, esse é um caso excepcional onde o homem consegue atingir a verdade absoluta, mesmo que parcial, já essa só é a verdade para aquela realidade específica. Nessa questão Kubrick é quem demonstra de forma mais poética. O fim de “2001” demostra claramente como a verdade absoluta seria demais para o ser humano, é algo que destruiria sua mente e conseqüentemente seu corpo. Apesar de mover o ser humano, pode-se observar pela história que toda vez que algo supera as expectativas humanas e nos aproxima mais de tal verdade, um caos cai sobre a humanidade. Toda descoberta feita por um ser humano excepcional, como Darwin, Galileo, Copernicus, entre outros, foi duramente julgada e condenada, para mais tarde ser compreendida.

Quando Alves argumenta que ao atingir a sociedade tecnológica a história morreria, ele mostra como o ser humano se tornaria uma máquina sem capacidade para refletir, o que contradiz a promessa de tal sociedade, a possibilidade do nascimento do homo ludens. É olhando para o passado, para nossa história que aprendemos a dar o próximo passo, por isso após se tornar um velho, o astronauta de Kubrick, virá um bebê, é em sua natureza mais inocente e no passado que ele encontra a verdade mais pura e absoluta.